Comportamentos e Atitudes - Decifrando a Assertividade


Muitas das dificuldades, tensões, desavenças e conflitos que experimentamos na nossa relação com outras pessoas devem-se a forma como nos expressamos e como concebemos as nossas características pessoais e a dos outros.
Nossa cultura enfatiza a observação de qualidades e defeitos das pessoas e sobre essa base estruturamos o nosso relacionamento. Com respeito ao que chamamos "qualidade", valorizamos a pessoa, elogiamos e às vezes até sentimos uma certa inveja quando "Moacir consegue se manter equilibrado durante todo o tempo em que fala com sua mulher. Se fosse eu já teria perdido a calma".
Mostramos aos nossos filhos as qualidades dos irmãos: "Veja, a Silvinha comeu tudo...". Tendemos freqüentemente a comparar as pessoas e a nos comparar com elas. Se em nós está a qualidade e no outro o defeito, ótimo. Se, o inverso, surge sentimentos de inadequação pessoal. Na verdade esta constante identificação de defeitos e qualidades poderia ser trocada por outra analogia bem mais real.
Ao aprendemos a ver no outro suas CARACTERÍSTICAS, poderemos nos relacionar com ele sem cobranças e avaliações. Defeitos e qualidades dependem da cultura, da situação e de quem faz esta apreciação. Nos nossos contatos com as pessoas verificamos que um mesmo fato ou comportamento contrariam imensamente uma pessoa e em nada incomodam a outra. Nós mesmos passamos a admirar comportamentos que antes nos irritavam. Conviver com alguém observando e identificando as suas "Características" é experiência enriquecedora de vida.

Curiosidade é uma característica que alguém pode ter. Isto é defeito ou qualidade? Para o repórter, ser curioso é fundamental...Talvez nem tanto para o garçom. Uma pessoa que não gosta de ser acordada à noite, ou se sente irritada em abandonar uma festa, tem características que provavelmente não a indicam para se especializar em obstetrícia. Mas será isso um defeito? Esta pessoa certamente poderá se forma em Direito, poderá atingir bom conceito profissional, e nunca precisar ser acordada por um cliente. Portanto, estar disponível para acordar à noite e atender o cliente não é um defeito ou qualidade de uma profissão: é sua característica.

Nós que falamos tanto nas diferenças individuais, na individualidade do ser humano, nem sempre agimos assim. Estamos constantemente querendo que as pessoas mudem, que se comportem como outra que admiramos. Isto nos traz conflito, ansiedade, nos custa até perda de alguns amigos. Quando procuramos mudar o outro e sugerir que ele mude, nós esquecemos de observar em nós mesmos o quanto é difícil mudar. "Vou parar de fumar amanhã", "começar o regime à partir de 2º feira", "não bato mais no meu filho, na sua próxima travessura". Promessas como estas, faço há 5 ou 6 anos consecutivos. Esta batalha pela mudança às vezes pode ser substituída pela observação e reconhecimento das características do outro e pela aprendizagem de formas alternativas de reação às pessoas e aos fatos. Dentre as alternativas de relacionamento, podemos experimentar uma convivência pautada na identificação do que o outro gosta ou não gosta, faz com maior ou menor facilidade.

Quando sou avaliativo, e acabo de assistir a uma palestra em que o expositor se expressou lentamente, fez pausas e se embaraçou com o retroprojetor, certamente comentarei: "Como uma pessoa tão incompetente se mete a ser conferencista..." Posso até acertar na minha avaliação. A pessoa pode ter dificuldade em se expressar mas ser competente. Além disso, outra pessoa que ouviu a palestra pode não ter se incomodado com a forma de exposição, ter ficado atenta e aprendido muito. Enquanto estive julgando e avaliando não fiquei disponível para me concentrar no que ouvia. Aprender a conviver sem julgamento e avaliação é redescobrir as pessoas. É certamente um esforço contra uma tendência cultural, mas uma experiência gratificante, capaz de reduzir arestas e criar um clima positivo para o crescimento das relações interpessoais baseadas na franqueza e abertura.

AS MODALIDADES DE COMPORTAMENTO

São variadas as concepções sobre o comportamento, seus determinantes e conseqüências. Utilizaremos aqui a proposta de Alberti e Emmons que sumariamente, assim pode ser representada: Modalidades de comportamento

a b c _______________________________________________ não assertivo assertivo agressivo

Os autores citados apresentam uma escala que contém 3 modalidades básicas de comportamento: o comportamento não assertivo, o comportamento assertivo e o comportamento agressivo, que assim podem ser caracterizados:

COMPORTAMENTO NÃO ASSERTIVO Aqui se enquadram pessoas que dizem "sim" em situações nas quais sentem vontade de dizer "não". Atendem às solicitações dos outros temendo desagradar. Renegam a sua vontade, seus planos e propostas em função das outras pessoas. Arranjam tempo para cuidar dos filhos, fazer coisas que o vizinho pediu , atender a sua chefia fora do horário de trabalho. Em compensação, falta-lhes tempo para cortar o cabelo, ler um livro que comprou, ouvir um disco preferido. Procurando atender o outro, não atende a si mesmo. Buscando agradar, comporta-se de modo passivo, não expressa o que realmente sente, aguardando sempre a proposta das outras pessoas. Em princípio esta conduta parece interessante e tem um escudo de "servir ao outro", como propõe em algumas religiões.

Mas observa-se que freqüentemente esta pessoa é explorada pelos outros , que sempre a procuram como avalistas, companheiro para programas que em geral as pessoas recusam, atender a emergências, expor-se a situações difíceis. Observando a pessoa que se comporta predominantemente de maneira não assertiva, vê-se que ela não se sente bem consigo mesma, age com insegurança, adoece com freqüência ( úlceras, gastrites, etc.), demora tomar decisões ou vacila sobre a qualidade do que quer escolher. O acúmulo das sensações negativas, de constatação freqüente de estar nas mãos dos outros, de ser explorado, de não ter tempo para si mesma, resulta num comportamento servil, apagado, dependente.
Como conseqüência , embora procurado com freqüência, geralmente não é a pessoa escolhida para cargos importantes: "ela não é segura o suficiente para conduzir um grupo tão conflitivo." Preterida, muitas vezes tratada com grosserias e desrespeito a pessoa tende a estar constantemente doente e deprimida. Outras vezes, e até com freqüência, a pessoa tende a explosões inesperadas, como conseqüência do acúmulo de sentimentos negativos. Observa-se ainda a duplicidade de comportamento que surpreende alguns amigos. Pessoas alegres e brincalhonas no trabalho e que em casa são duras grosseiras e exigentes. Outras que se comportam de modo autoritário com seus subordinados e são totalmente servis ao seu chefe. Maridos frágeis, geralmente maltratados em casa, que são duros e agressivos com seus colegas e subordinados.
Geralmente estas pessoas descobrem um lugar onde podem explodir e outro onde decidem "engolir" os maus tratos. A opção por este tipo de comportamento tem algumas justificativas por parte de quem se comporta assim:

é impossível ser sincero com o Luiz. Ele é agressivo " cabeça dura", não respeita os sentimentos dos outros".
eu não consigo dizer "não" porque minha mãe nunca permitiu isso.
se eu for sincero, perderei meu emprego ao dizer ao meu chefe tudo que penso sobre ele. Estas justificativas impedem a pessoa de visualizar outras formas de se comportar. Na verdade, todas as nossas condutas têm conseqüências. Se depois de obedecer cegamente o meu chefe por dois anos, de "concordar" com tudo que ele propõe, de rir de suas piadas sem graça, eu decido mudar isso um dia, na presença de todos os meus colegas, de gritar com ele , ou mesmo procurá-lo e "vomitar" num dia todas as minhas mágoas e queixas, as coisas poderão tomar um rumo difícil. Acumular situações desagradáveis é preparar uma grande tragédia. Aprender a tratar os problemas e dificuldades no momento em que eles aparecem, ajuda enormemente a evitar grandes tensões e explosões.

COMPORTAMENTO AGRESSIVO

Tendemos a classificar como agressivas as condutas baseadas em gritos, palavrões e brigas físicas. Na verdade, muitas outras condutas têm igual teor: a provocação , a hostilidade, a ofensa e o ataque. Nós nos sentimos agredidos quando alguém afirma que nos comportamos de forma desonesta em determinada situação , quando nós não reconhecemos isto como verdadeiro. Às vezes somos mal interpretados e isto nos magoa fortemente. Isto não é diferente para as outras pessoas. Nosso comportamento, mesmo através de uma expressão aparentemente calma e polida, pode ter um conteúdo agressivo e provocador. Sempre que julgamos ou avaliamos a conduta das pessoas, elas podem se sentir agredidas. Se eu digo : você é vaidoso, sua voz me irrita ou você compete comigo, posso estar interpretando a conduta da pessoa de forma que ela não percebe.

Posso até acertar no meu julgamento, mas posso estar me referindo a um comportamento do qual a pessoa não tem consciência. Explicitar isto pode criar fortes resistências na pessoa, que negará a minha interpretação, fechando a possibilidade de rever e analisar o seu comportamento.

O comportamento agressivo é uma forma de colocar no outro a responsabilidade total pelos nossos problemas. A forma de expressão da agressividade sempre começa pelo outro: você é, você fez, sua forma de falar me irrita, etc.....
A reação das pessoas ao comportamento agressivo é variada. Alguns se retraem, assustam e ficam paralisados. Outros respondem com agressão. Qualquer que seja a reação sempre há uma relação tensa e conflitiva. Quem agride canaliza uma enorme energia para não perder a batalha: agredir mais e mais forte, calar o outro ou deixa-lo arrasado. O embaraço que trás a agressividade para pessoas tímidas e frágeis podem fazer com que estas mintam buscando evitar as respostas agressivas. Filhos de pais muito rígidos e agressivos costumam desenvolver esse tipo de comportamento. São freqüentes doenças cardíacas em pessoas predominantemente agressivas.

COMPORTAMENTO ASSERTIVO

O ponto central da escala descrita anteriormente refere-se ao comportamento assertivo. A significação mais próxima do termo é comportamento afirmativo. Não temos no português outro termo mais abrangente e é preciso falar de assertividade além de seu significado nos dicionários. O comportamento assertivo caracteriza-se pela expressão sincera e direta de sentimentos. A pessoa expõe sua percepção seu ponto de vista e suas idéias de forma adequada e no momento oportuno. Fala de fatos e não faz julgamento de comportamento dos outros.

Sua forma de expressão faz referência a ela mesma:

eu me senti constrangida quando você gritou comigo...
eu compreendi as razões da sua decisão e gostaria de lhe falar a maneira como vejo esta situação.
eu tenho uma sugestão a lhe dar sobre o seu trabalho, você quer ouvir? Esta forma de expressão retrata o respeito, a individualidade dos outros, reconhece as suas características e assegura o mesmo para nós. Você pode pensar completamente diferente de mim, ter opiniões opostas e isso não precisa ser uma fonte de conflito e desgaste. Não posso querer que aceitem meu comportamento quando não aceito o dos outros. O comportamento assertivo é uma postura de responsabilidade e liberdade.

Eu reconheço que sou responsável por, no mínimo, 50% nas situações que vivencio. Sei que posso gritar ou manter a calma em uma mesma situação. Se não gosto do meu trabalho, discordo do salário que recebo e vivo isto a 5 ou 6 anos, sou em parte responsável por permanecer nesta situação. Posso procurar outro trabalho, buscar novas oportunidades. Comportar-se de forma assertiva é antes de tudo ser livre. Exemplo clássico é o que se segue. "Dois amigos, ao se dirigirem para o trabalho, resolveram comprar um jornal. Um deles sugeriu que fossem até a banca do outro lado da rua, onde diariamente comprava o seu jornal. Cumprimentou animadamente o dono da banca que respondeu friamente sem levantar os olhos. Pagou o jornal e se despediu com o mesmo entusiasmo.

A resposta à despedida nem foi ouvida.
O amigo comentou:
Você compra jornal aqui todos os dias?
E este cara lhe trata assim?
É. Sempre mal humorado e grosseiro.
E você o trata com tanta educação?
Claro! Não deixo que ele defina a maneira como vou me comportar.

Não importa se a pessoa é educada ou não. Eu posso me comportar da maneira que gosto, independente das suas características. Quando trato de modo muito diferente uma pessoa calma e outra agressiva, estou permitindo que elas controlem meu comportamento. A liberdade está em respeitar minhas percepções, meus desejos, minhas posições de vida. Na vivência da assertividade , alguns aspectos são porém determinantes:

1- Expressão Direta
Sempre falo diretamente com a pessoa com a qual desejo expressar minha impaciência, minha dificuldade , ou outro sentimento forte. Toda vez que procuro terceiros para reclamar ou queixar , posso desabafar mas não resolvo a questão. Só posso resolver um conflito ou dificuldade com a pessoa diretamente envolvida. Uma grande ajuda que podemos dar a alguém que nos procura para reclamar de outra pessoa é ouvi-la, ajudá-la a compreender melhor a situação que está vivendo e incentivá-la a procurar a pessoa com a qual se sentiu incomodada e discutir com ela de forma assertiva. Sempre que interferimos diretamente na solução de um problema entre duas pessoas tiramos delas a oportunidade de crescimento. Desenvolvendo o comportamento assertivo, raramente comentaremos com outra pessoa uma questão que não diz respeito a ela diretamente. O estímulo a esta postura num ambiente de trabalho é fator fundamental para manutenção de relações interpessoais sadias. As pessoas aprendem a esclarecer questões que a incomodam apenas com os colegas diretamente envolvidos nisso sem "fofocas".

2- Comunicação baseada em fatos

O comportamento assertivo é pautado em fatos e não em avaliações. Se eu chego na sua sala de trabalho e encontro seus funcionários falando alto, rindo, fazendo um barulho imenso, posso procurar-lhe e dizer:
Sua seção é uma baderna, seu pessoal trabalha ou não?
Mas posso também lhe dizer:
Cheguei hoje na sua sala e encontrei o grupo reunido, falando alto, rindo muito e fiquei interessada em saber o que se passava lá. Você sabe me dizer? Outra interpretação que caracteriza a expressão baseada ou não em fatos: Resposta assertiva (baseada em fatos) No dia em que lhe apresentei a proposta solicitada, você, na presença de estranhos gritou comigo, eu me senti ofendida. Hoje estou lhe procurando para dizer que não gosto de ser tratada assim. Peço que me chame em particular quando quiser tratar de assuntos desse tipo.
Resposta agressiva (avaliativa)
Sua falta de educação de ontem , não pode ser perdoada. Você me feriu, me humilhou, desconsiderou minha capacidade.
Você não é um gerente com competência apara o cargo que ocupa. Resposta não- assertiva (passiva, sem expressão do sentimento)
"Entenda, eu não tive tempo para fazer melhor".
Ou ainda: A pessoa se cala, vai para casa, queixa-se com os outros adoece, mas nunca mais comenta o fato com a pessoa que lhe incomodou. Observe que as frases características do comportamento assertivo sempre são auto-referentes.
Eu me senti agredido...
Eu não gostei da forma como fui tratado por você...
Quando você saiu sem se despedir de mim , senti-me preterida...
As frases avaliativas (agressivas), sempre jogam no outro a responsabilidade pela situação. Você me agrediu...
Não se trata alguém como você me tratou...
Você foi grosseiro ao sair sem se despedir de mim...
É preciso salientar que a conduta assertiva tem como pressuposto a responsabilidade pelos próprios sentimentos. A pessoa agressiva se faz de vítima ou procura se mostrar como sendo melhor que os outros, como mais inteligente, muito perspicaz, mais ágil que todos.
Vê os defeitos dos outros e fala disto sem qualquer reserva. Mas se alguém fala de seus defeitos ela se defende, justifica, explica ou agride.

3- Resposta imediata e oportuna

Ocorrida uma situação na qual me senti incomodada, tenho que buscar esclarecê-la imediatamente. Quando aguardo a raiva passar ou se fico pensando uma melhor forma de abordagem por muito tempo, corro o risco de deixar passar a emoção e não fazer mais sentido uma conversa esclarecedora. É importante salientar que a resposta deve ser imediata e também oportuna. Se eu acabo de ser agredida em público e isso me constrange posso reagir de forma assertiva dizendo:
- Gostaria de conversar com você sobre isso, mas não agora. Vou procurá-lo logo que termine essa reunião . Assunto de interesse específico de duas pessoas se tratados em grandes grupos podem se transformar em conflitos. A escolha de uma situação oportuna é outra característica do comportamento assertivo.


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